A Cultura em Nosso País e a Questão da Sustentabilidade

1. Em sua opinião, os profissionais que trabalham com ações culturais possuem uma visão de desenvolvimento sustentável da cultura?

Trata-se de uma preocupação relativamente nova esta, de nomenclatura também recente “desenvolvimento sustentável”. Embora tão em voga, imagino que poucos sabem definir tal causa com precisão, sobretudo quando não se está lidando diretamente com o meio ambiente. Por outro lado, já é possível imaginar que desenvolvimento sustentável diga respeito a um fazer mais consciente e integrado, envolvendo planejamentos e ações que consideram o envolvimento com outras áreas de conhecimento e outros setores. Nesse sentido, ações culturais devem ser idealizadas, cultivadas, desenvolvidas, difundidas, propagadas e disseminadas considerando um contexto macro, que envolve aspectos também educativos, sociais, econômicos, entre outros, e considerando também sua perenidade, sobretudo financiadas com recursos alavancados com os próprios eventos, tudo isso ainda raro entre nós: devido às muitas dificuldades de se efetivar ações culturais em nosso país, não raramente elas são feitas como eventos pontuais, ou seja, não continuados, com doses significativas de urgência, improviso, desperdícios, pouca ou nenhuma comunicação com outras áreas que poderiam colaborar e usufruir dos mesmos objetivos. Finalmente respondendo a pergunta feita: penso que parte dos profissionais culturais podem até ter a intenção de trabalhar de um modo efetivo e eficaz quanto ao “desenvolvimento sustentável”, mas na prática, devido a diversas e complexas circunstâncias, muito precisa ser ainda construído ou desenvolvido para possibilitar a ampliação desse processo.

2. Ao falarmos de cultura e desenvolvimento, vemos uma relação de interdependência entre esses termos. No caso do Brasil, você acredita que a atual proposta de educação e cultura do governo apresenta condições para o desenvolvimento da população ou ainda é um ato falho?

Conforme antecipei acima, as limitações são muitas, talvez e principalmente aquela que diz respeito ao conceito, significado e importância da cultural como um bem para a sociedade como um todo e seu respectivo desenvolvimento. O que vemos na prática é que grande parte da elite política e financeira, por desconhecimento e falta de parâmetros, ainda consideram cultura coisa de menor valor, até mesmo supérflua e banal. No mesmo sentido, é ínfimo o entendimento de que cultura e educação andam de mãos dadas e juntas compreendem o alicerce para qualquer proposta por meio da qual se vislumbre o desenvolvimento de uma nação.

3. Para você, como iniciativa privada e governo entendem política cultural?

O termo “política cultural” em geral parece ser ou mal compreendido e/ou ignorado, sobretudo quanto à responsabilidade ou comprometimento ético de se democratizar as mais diferentes manifestações culturais segundo as muitas existentes e fazê-las chegar continuadamente à sociedade em geral. Na prática, a “política cultural” demonstra prioritariamente atender e viabilizar maneiras de mais ou menos atender as demandas das classes e lideranças que se fazem ouvir e têm ferramentas de pressão ou de convencimento de que haverá uma contrapartida de benefícios não necessariamente “culturais”.

4. Para um modelo sustentável da cultura, quem é mais importante: Estado, iniciativa privada ou o público?

Para a mudança de mentalidade que acredito ser a mola propulsora de uma real alteração do sistema existente, bastaria que líderes da sociedade organizada tivessem compreensão no que estão em desvantagem pela defasagem cultural que se encontram, diante do que teriam direito, para tornarem Estado e iniciativa privada seus parceiros na busca de um benefício comum.

5. Como uma colaboradora direta do movimento “Eu quero Educação Musical nas Escolas”, você acredita que a sociedade entende a real importância desse tipo de atividade em sala de aula para a formação do aluno?

De modo geral a sociedade é fortemente seduzida pela apreciação e pela prática musical, sendo essas relacionadas acima de tudo a prazer e a emoção. Inclusive tende-se a mitificar esse bem justamente porque, paradoxalmente, apesar de tão admirado, muito pouco se pode beneficiar dele diretamente e com constância. Por outro lado, existe um descompasso quanto à compreensão real do que a música na sala de aula trás como forte elemento de formação integral, para muito além de prazer, entretenimento e emoção. Disso só se pode avaliar e ser um defensor da idéia desde que se experimenta ou se testemunha o resultado; eis o desafio!

Silvia de Lucca

 

FONTE: Entrevista concedida a Jerônimo Feitosa em 2012 para a elaboração de seu Trabalho de Conclusão de Curso de Pós-Graduação Lato Sensu em Gestão Cutlural pelo SENAC-Curitiba, expondo alguns pontos de vista a respeito da situação da “Cultura” em nosso país e a questão da sustentabilidade -, segundo ele um termo que define um “modelo de desenvolvimento que busca conciliar as necessidades econômicas, sociais e ambientais de modo a garantir seu atendimento por tempo indeterminado e a promover a inclusão social, o bem-estar econômico e a preservação dos recursos naturais”.